Quero alfabetizar minha criança de 3 anos, o que posso fazer?
- Bicho-Curioso
- 11 de ago. de 2021
- 5 min de leitura
A alfabetização é uma fase importante no desenvolvimento da criança e frequentemente gera expectativas e ansiedade nos adultos, principalmente nas famílias que querem logo ver seus pequenos desbravando o mundo! E quem não quer?!
É comum ver crianças nessa idade repetindo letras, palavras, identificando bandeiras e tantas outras coisas que nós, adultos, incentivamos pensando estar contribuindo para sua formação. De fato, até podemos estar, mas precisamos concordar que memorização não é o mesmo que construção de conhecimentos. Há bastante tempo superamos esse pensamento e precisamos adequar nossas práticas como educadores, sejamos professores ou familiares. Não há proibições ou caminhos pré-determinados a serem seguidos, mas precisamos refletir sobre o desenvolvimento da criança e favorecer as condições para que aconteça! Pensar no quê e no porquê daquilo que estamos propondo!
A educação escolar e a criação dos filhos são assuntos que geralmente geram muitos debates. Portanto, o que escrevo aqui é baseado nas minhas concepções acerca da educação e do desenvolvimento infantil. As questões humanas estão frequentemente sujeitas a divergências e isso faz parte da nossa construção. O mais importante, como disse anteriormente, é sabermos o quê e o porquê do que estamos propondo. Ou seja, ter claro o tipo de educação em que acreditamos e se nossa prática está ou não em concordância. Dessa forma, tomaremos decisões mais conscientes!
Mas, voltando ao tópico principal: minha criança tem 3 anos e quero alfabetizá-la, o que posso fazer? Primeiro de tudo, não tenha pressa! A alfabetização é um processo complexo e a pressão e a cobrança dos adultos não contribui em absolutamente nada! Segundo, aprender a ler e a escrever faz parte de um processo que envolve a construção de diversos outros conhecimentos e habilidades. Então, se afaste da ideia de que memorizar os nomes e os sons das letras ou das sílabas é a tarefa mais importante deste processo!
Pensando nisso, decidi escrever sobre alguns conhecimentos que fazem parte dessa jornada e listei alguns exemplos de atividades e momentos que auxiliarão a criança nessa construção:

Função social da escrita: um dos grandes conhecimentos a serem construídos sobre o sistema de escrita é compreender sua função. Por que e para que escrevemos? Por que e para que lemos? A melhor forma de construir este conhecimento é vivenciá-lo. Proporcionar situações reais em que a leitura e a escrita façam parte do cotidiano da criança desde cedo. Muito falamos sobre a literatura e esta é de fato muito importante neste processo. Ler por prazer, explorar novos mundos, conhecer novos personagens e culturas, experimentar diferentes emoções: isso e muito mais a literatura nos proporciona. Mas não lemos apenas por deleite! Lemos receitas, manuais, mensagens, cartões, notícias, placas. Da mesma forma, escrevemos listas de compras, de coisas a fazer, mandamos mensagens, escrevemos nossos próprios textos, etc. Há uma infinidade de gêneros e usos que fazemos do sistema de escrita. Então, que tal incluí-los no dia a dia da criança? Convide-o a escrever um bilhete para o irmão ou um colega, a escrever uma lista do que quer do supermercado ou do que farão juntos no fim de semana; convide-o a montar um mural de fotos e a escrever o nome de cada um que está ali representado; convide-o a escrever uma história, um cartão de aniversário para alguém querido. Crianças pequenas aprendem brincando, escrevam e leiam receituários médicos enquanto brincam de hospital ou de veterinário; escrevam e leiam receitas enquanto cozinham ou fazem de conta; escrevam e leiam manuais de instrução enquanto brincam de inventores. Usem a criatividade! Traga elementos de interesse e do cotidiano da criança e explore as infinitas possibilidades de incluir a leitura e a escrita da forma como são usadas no mundo real! Ah, importante! Deixe que a criança escreva e leia à sua maneira! O processo tem que ser prazeroso! Não é o momento de cobrar que leia e escreva cada palavra corretamente!

Diferenciação entre registros feitos por desenhos ou pela escrita: outro grande conhecimento a ser construído é o de que existem diferentes formas de registrar aquilo que pensamos e falamos. Um cachorro pode ser representado por um desenho, mas também por letras. Para nós adultos parece óbvio, mas é muito comum ver crianças pequenas desenhando quando pedimos para escrever algo. Dessa forma, explore o mundo das ilustrações, das fotografias, das imagens e também o da escrita. Façam desenhos e escrevam o que desenharam, desenhem pessoas e personagens e escrevam os seus nomes, legendem fotos. Durante a leitura, explorem o que está escrito e que está desenhado, brinquem de ler e de procurar as imagens correspondentes. Mais uma vez, use a criatividade! Convide a criança a desenhar, mas também a escrever à sua maneira. Façam juntos para que ela perceba as possibilidades.

Coordenação motora fina: o desenvolvimento motor também é importante no processo de alfabetização. Antes de pegar um lápis para traçar as letras, a criança precisa de estímulos para que sua coordenação motora fina seja desenvolvida. Movimentos com os dedos auxiliarão muito neste processo. Atividades como brincar de massinha, cortar e amassar papel, mexer na terra com as mãos, coletar e organizar pequenos objetos, usar materiais de encaixe e outros brinquedos que precisam ser manipulados com os dedos (pinças, conta gotas, etc.). Tudo isso auxiliará no fortalecimento da musculatura e facilitará a pega do lápis. E, claro! Ofereça lápis, giz, pincel, canetinhas!

Vocabulário e os sons das palavras: construir um repertório e saber brincar com os sons das palavras também é importante neste processo. Não subestime a capacidade de compreensão da criança, converse sobre os mais diversos assuntos, use um vocabulário vasto e estimule a fala. Conte, pergunte, explique, troque ideias, brinque com as palavras e seus sons, faça rimas, cante. As parlendas são grandes aliadas neste processo, ouçam e aprendam juntos novas canções. Brinquem com os nomes das coisas “será que cabe uma mão dentro do mamão?”, “você troca seu sapato por uma pena de pato?”, “será que todo João toma café e come pão?”. Brinque com as palavras e seus sons! Estimule a criança a perceber a sonoridade das palavras.

Alfabeto: ah, enfim o alfabeto! Sim, reconhecer as letras e seus nomes é importante. Conhecer as letras que compõem o nosso alfabeto também faz parte deste processo. Mas percebam quanta diversão pode acontecer antes de sentarmos para ensinar que o nome da letra B é “bê” e que o da letra J é “jota”. Quantos conhecimentos e habilidades extremamente importantes podem ser trabalhados antes de ensinar as letras! Ainda assim, quando formos ensinar o alfabeto, podemos fazer de forma divertida: um bingo, um desafio de encontrar letras em livros ou revistas, uma pesquisa de palavras que começam com aquela letra (frutas, animais, nomes de pessoas, etc.), traçá-los com massinha ou cordões ou montar um alfabeto ilustrado. Há um universo de possibilidades!
Como dito antes, não há um caminho único a ser percorrido! Meu objetivo principal foi despertar a reflexão sobre a variedade de conhecimentos e habilidades que podem e devem ser trabalhados quando pensamos na alfabetização de crianças pequenas e que o processo é de construção, não de memorização. O aprendizado se torna mais fácil quando pensamos em situações prazerosas, de parceria e que façam sentido para a criança.
Me conte quais outras práticas, habilidades e conhecimentos você tem trabalhado com seus pequenos! Compartilhe conosco. Vou adorar saber!